segunda-feira, 20 de outubro de 2014

AVALIAÇÃO NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Focar excessivamente o teste e prejudicar o processo de aprendizagem. Essa pode ser uma das conseqüências de avaliações de alfabetização aplicadas em larga escala e uma das preocupações entre especialistas em relação à Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), prova do governo federal a ser aplicada, a partir deste ano, para os alunos do 3° ano do ensino fundamental da rede pública. A ANA será feita anualmente, perto do fim do período letivo, de modo censitário.

Para avaliar a alfabetização nos primeiros anos do ensino fundamental, o Saeb já contava com a Provinha Brasil, uma avaliação diagnóstica aplicada em duas etapas (no início e no fim do ano letivo) para os alunos do 2° ano. Segundo o Inep, a prova não sofrerá alterações. De acordo com o órgão, a ANA foi criada para "avaliar a qualidade, a equidade e a eficiência" do ciclo de alfabetização das redes públicas. Já a Provinha Brasil é um instrumento disponibilizado para o professor, com caráter diagnóstico de sua turma.


Como usar os resultados

O potencial de informação que avaliações em larga escala produzem é muito importante para auxiliar governos, escolas e professores a planejarem suas ações. Tais informações permitem identificar necessidades de aprendizagem e de investimentos diversos. Os efeitos desse tipo de avaliação são múltiplos, embora dependam não só dos usos pedagógicos, mas também dos usos políticos dos resultados e informações coletados. Cabe às escolas aplicá-la, corrigi-la e utilizar pedagogicamente os resultados - este último é um desafio.
Os primeiros instrumentos de avaliação da alfabetização no Brasil são do final dos anos 1980, lembra João Luiz Horta Neto, pesquisador do Inep. As primeiras aplicações de pesquisas no âmbito nacional, desenvolvidas pela Fundação Carlos Chagas, foram em 1988. Segundo Horta, a preocupação naquela época era identificar se estava acontecendo algum problema na alfabetização e, caso estivesse ocorrendo, verificar como o sistema educacional   poderia atuar junto à formação de professores - tanto na inicial quanto na continuada. "As avaliações não tinham por objetivo classificar escola ou premiar professor, e também não se comentava que havia uma idade certa para a criança estar alfabetizada. Hoje a ênfase é totalmente diferente", diz.
Para Sandra Zákia Sousa, professora da Faculdade de Educação da USP, a iniciativa de criar a ANA faz parte da crença de que provas externas e em larga escala têm potencial de ser um meio indutor de qualidade do ensino e da aprendizagem. "Além de não ser possível fazer essa associação direta - haja vista os persistentes dados de fracasso escolar, apesar da instituição do Saeb há mais de duas décadas - vale comentar possíveis desserviços desta iniciativa nos anos iniciais da escolarização", afirma. Sandra tem divulgado em seus trabalhos que a concepção de avaliação cujo foco seja o desempenho em testes desloca a discussão, indesejadamente, da qualidade do ensino do âmbito político e público para o âmbito técnico e individual. "Isso tende a ativar mecanismos que estimulam a competição entre escolas e redes de ensino", aponta.

Fonte: CORSINI, Rodnei. Pressão pela alfabetização. Disponível em: <http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/197/artigo296176-1.asp>. Acesso  em: 20 out. 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário